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Adensamento e verticalização no entorno do Parque Areão Jorn. Washington Novaes 


Foto: Fred Le Blue Assis 


Em 2022 o Setor Marista em Goiânia bateu record com mais de 1,1 mil imóveis construídos. Mas quais as implicações desse superadensamento vertical na região? A paisagem cultural do bairro residencial foi alterada, tendo o Plano Diretor de 2007 como fiador, visando beneficiar as grandes incorporadoras que viram no Parque Areão, vantagens locacionais para novos empreendimentos no bairro. 


A preservação ambiental do Areão, que tem muitas nascentes importantes, estava prevista no projeto de 1930 da capital planejada. Tendo sido inaugurado em 1938, o parque tem passado por constantes revitalizações da prefeitura de Goiânia. Iris Machado, por exemplo, criou a Vila Ambiental, espaço cultural dedicado à conscientização socioambiental na cidade. 


Apesar da importância desse ambiente natural para o ecossistema urbano, a conta não fecha, pois que o excesso de prédios tende a anular o efeito esperado de conforto térmico positivo no microclima local. Para piorar, com Plano Diretor de 2021, condescendente com o rentismo espoliador, mais 13 quadras foram liberadas para construção de edifícios, o que faz, atualmente, do bairro, um dos campeões em poluição sonora e fluxo de trânsito, por causa de atividades frenéticas de transporte de cargas da construção civil. A verticalização no Marista tem empreendido também uma chacina de memória espacial em um dos bairros históricos da cidade. Quarteirões inteiros foram e estão sendo descaracterizados totalmente. 


Mesmo as famílias que queriam permanecer foram compelidas a vender as suas casas, com receio de ficarem ombreadas por prédios de todos os lados da quadra, num cenário muito mais perverso do que o descrito por Ítalo Calvino no livro "Especulação Imobiliária". Talvez se os gestores municipais tivessem tombado o horizonte das zonas envoltórias dos parques, tornando-os indevassáveis, pelo menos, evitaria-se que um paredão de prédios monopolizasse a vista e o ar desses equipamentos públicos de verde urbanizado, transformados em uma espécie de excludente orla marítima imaginária de luxo. 


Ocorre que a Prefeitura de Goiânia lucra com a permissividade com adensamento, pois que o aumento do potencial construtivo dos terrenos e dos gabaritos dos prédios, vira recebíveis na forma de IPTU e taxa de outorga onerosa. No que retribui para elite dando, por vezes, tratamento de private bank para algum jardim ou academia da melhor idade locizados nas regiões nobres e valorizadas, em detrimento das áreas centrais e periféricas, abandonadas ou em obras que parecem que foram interrompidas. 


O resultado é que se criou um aumento do valor de venda e aluguel no Marista, acima da média até de bairros vizinhos. A homenagem ao eterno jornalista ambiental Washington Novaes que passou a integrar, recentemente, o nome do Parque Areão é aqui mais uma forma de utilizar a associação imagética com a natureza ou os seus defensores ecologicamente corretos para trabalhar contra ela.







Fotos: Fred Le Blue Assis


Por Fred Le Blue Assis:  Doutor em Planejamento Urbano UFRJ e idealizador do "Goiânia: Capital de 2030"


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Adensamento e verticalização no entorno do Parque Areão Jorn. Washington Novaes 


Foto: Fred Le Blue Assis 


Em 2022 o Setor Marista em Goiânia bateu record com mais de 1,1 mil imóveis construídos. Mas quais as implicações desse superadensamento vertical na região? A paisagem cultural do bairro residencial foi alterada, tendo o Plano Diretor de 2007 como fiador, visando beneficiar as grandes incorporadoras que viram no Parque Areão, vantagens locacionais para novos empreendimentos no bairro. 


A preservação ambiental do Areão, que tem muitas nascentes importantes, estava prevista no projeto de 1930 da capital planejada. Tendo sido inaugurado em 1938, o parque tem passado por constantes revitalizações da prefeitura de Goiânia. Iris Machado, por exemplo, criou a Vila Ambiental, espaço cultural dedicado à conscientização socioambiental na cidade. 


Apesar da importância desse ambiente natural para o ecossistema urbano, a conta não fecha, pois que o excesso de prédios tende a anular o efeito esperado de conforto térmico positivo no microclima local. Para piorar, com Plano Diretor de 2021, condescendente com o rentismo espoliador, mais 13 quadras foram liberadas para construção de edifícios, o que faz, atualmente, do bairro, um dos campeões em poluição sonora e fluxo de trânsito, por causa de atividades frenéticas de transporte de cargas da construção civil. A verticalização no Marista tem empreendido também uma chacina de memória espacial em um dos bairros históricos da cidade. Quarteirões inteiros foram e estão sendo descaracterizados totalmente. 


Mesmo as famílias que queriam permanecer foram compelidas a vender as suas casas, com receio de ficarem ombreadas por prédios de todos os lados da quadra, num cenário muito mais perverso do que o descrito por Ítalo Calvino no livro "Especulação Imobiliária". Talvez se os gestores municipais tivessem tombado o horizonte das zonas envoltórias dos parques, tornando-os indevassáveis, pelo menos, evitaria-se que um paredão de prédios monopolizasse a vista e o ar desses equipamentos públicos de verde urbanizado, transformados em uma espécie de excludente orla marítima imaginária de luxo. 


Ocorre que a Prefeitura de Goiânia lucra com a permissividade com adensamento, pois que o aumento do potencial construtivo dos terrenos e dos gabaritos dos prédios, vira recebíveis na forma de IPTU e taxa de outorga onerosa. No que retribui para elite dando, por vezes, tratamento de private bank para algum jardim ou academia da melhor idade locizados nas regiões nobres e valorizadas, em detrimento das áreas centrais e periféricas, abandonadas ou em obras que parecem que foram interrompidas. 


O resultado é que se criou um aumento do valor de venda e aluguel no Marista, acima da média até de bairros vizinhos. A homenagem ao eterno jornalista ambiental Washington Novaes que passou a integrar, recentemente, o nome do Parque Areão é aqui mais uma forma de utilizar a associação imagética com a natureza ou os seus defensores ecologicamente corretos para trabalhar contra ela.







Fotos: Fred Le Blue Assis


Por Fred Le Blue Assis:  Doutor em Planejamento Urbano UFRJ e idealizador do "Goiânia: Capital de 2030"


 

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quarta-feira, 06 setembro 2023, 05:55:00
 

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